A Matriz do povo de Macaíba
O talento e as lentes são do amigo Marcelo Augusto, colunista compulsório desta Revista, mas a Matriz de Nossa Senhora da Conceição “é do povo, como o céu é do condor!”
O talento e as lentes são do amigo Marcelo Augusto, colunista compulsório desta Revista, mas a Matriz de Nossa Senhora da Conceição “é do povo, como o céu é do condor!”
Foi com essa afirmação que a governadora Professora Fatima Bezerra comemorou o acordo firmado entre o Governo do Estado e a UFRN pela instalação, em Macaiba, do Parque Científico Tecnologico Augusto Severo Pax. O ato solene aconteceu na Governadoria, em Natal.
O documento também foi chancelado pelo prefeito Emidio Júnior, que estava acompanhado pelo vice-prefeito Netinho França, por secretários municipais e pelos vereadores Aroldo, Tafarel, Luizinho, Érika, Rita de Cassia, Dadaia e Ismarleide.
Procurei nos obituáros e não encontrei nenhuma homenagem do prefeito, vereadores, militantes e arquitetos! Não mandaram nem coroa de flores!
Procurei nas páginas policiais e não vi nenhuma menção à lamentável execução que houve no Centro de Caicó em plena luz do dia!
Um símbolo da cidade foi ao chão, humilhado, como se o tempo e sua história fossem metralha.
Para usar uma frase feita, “num país sério”, essa demolição seria impedida a mando de baioneta!
Um casario colorido não é apenas cenário para selfie! Faz parte da identidade de quem viveu ali, da memória que precisa ser preservada para contar aos próximos as páginas feias e bonitas vividas.
Nem sei quem ordenou a matança, mas já o condeno ao purgatório dos ingratos e injustos! Ao mesmo inferno que será povoado pelos que flagelam nossa Amazônia. A metáfora pode ser rasa, mas os efeitos são os mesmos.
O signatário da Escritura tem cúmplice. Deveria ter sido tutelado por quem é eleito.
Claro que o antigo precisa abrir alas para o moderno. Mas este mesmo senso mostra fotografias de soluções arquitetônicas inteligentes que fazem o passado conviver com o arrogante presente, com harmonia, não tolerância (palavra feia!), obrigação, mas por reverência, reconhecimento.
Vizinhos ao casarão morto, contemporâneos seus resistem pela inteligência de seus tutores. Testemunhas da crueldade, devem chorar.
A única nota positiva desta página é que jovens lamentam.
Até quando nossa identidade estará impregnada nas ruas da cidade? A ordem de despejo está à porta!
Façam foto! Pela lógica vigente, em pouco tempo, o próximo passo seria marretar a Matriz de Sant’Ana, a Casa de Pedra! Mesmo componentes de um sítio a ser “preservado”.
Que feio, Prefeitura de Caicó!
O poder de polícia é seu e as manchas do sangue de cada tijolo derrubado ali estão nas mãos de quem finge não ter nada a ver com esse crime.
Para conhecer um pouco sobre a História do casarão:
https://www.juliachavesarq.com/post/o-casar%C3%A3o-ecl%C3%A9tico-demolido
Esses dias li que bípedes bagunçaram geral um dos depósitos de lixo instalados recentemente pela Prefeitura de Macaíba no Centro da cidade. Teve gente que colocou a culpa em quadrúpedes.
Aí me vieram versos clássicos do mestre Elino Julião:
“Veja, pessoal, que mau elemento! Não sei se o animal é ele ou o jumento…”
Agora em maio faz 15 anos que Elino se tornou saudade.
O polivalente amigo Marcelo Augusto, colunista compulsório desta Revista, merece um abraço de todos nós por fazer de sua profissão de fé o resgate da memória do chão e do povo de Macaíba.
Reproduzimos mais um texto seu:
“Vejam algumas ruas do centro da cidade, naquela Macaíba de 1971.
Olhem quanto verde ainda dispunha, muitos terrenos, pequenos sítios rodeavam a cidade que iniciava seu crescimento demográfico.
Caminhei e caminho sempre por esses espaços. Não sei até quando, mas ainda estou por aqui.
Quando vejo esses retratos, sinto uma magia dentro de cada lugar, de cada rua e de cada beco.
Já mudou quase tudo, e mudará ainda mais.”
Foto: Acervo PMM (domínio público)
Pode até ser saudosismo, mas também é uma pitada imensa de amor à minha Macaíba.
Outro dia postei uma fotografia parecida, só que de outro ângulo. Essa agora mostra o sítio que deu origem ao conjunto São Geraldo, e também os casarios da Rua Professor Caetano, a Praça de Coló, além do início da Avenida Jundiaí e Rua Heráclito Vilar.
Essa fotografia tem 50 anos, e em meio século nota-se muita mudança na cidade, mudanças boas e outras não muito boas assim.
Vamos caminhando, mostrando nossa Macaíba de ontem, àquela cidade provinciana, pacata e cheia de gente boa.
Quem tiver mais de meio século de vida saberá discernir o ontem do hoje.
Quanto ao amanhã, isso ainda não nos pertence!
Texto: Marcelo Augusto, colunista compulsório desta Revista Coité
Foto: Acervo
A Câmara Municipal de Macaíba aprovou há poucos dias uma proposição do vereador Aluízio Sílvio (PSDB) que sugere ao Executivo Municipal a revitalização do Museu Solar Ferreiro Torto. O projeto incluiria a realização de feiras e exposições de artistas locais na área externa do Solar, trilhas ecológicas monitoradas e… a instalação de um restaurante.
Muito bom saber que os vereadores macaibenses estão se movimentando em torno de ideias que incentivam o turismo, a economia e a cultura do município. Parabéns, Aluízio!
Porém, uma ressalva é urgente!
Sem profundidade alguma de conhecimento técnico na área, este repórter suspeita que instalar um restaurante em qualquer museu é inadequado, desnecessário e muito arriscado à integridade do acervo. Sobretudo quando tratamos de um prédio com estrutura e arquitetura antigas, sem os mínimos recursos de segurança necessários. Adequá-lo a esta finalidade custaria muito caro e iria impor à administração municipal um processo burocrático enfadonho, cheio de meandros, submetido pelos organismos que regulamentam e fiscalizam o uso e preservação do patrimônio histórico do estado, já que o Solar é tombado. Observem a complexidade das obras que estão sendo executadas na Pinacoteca do Estado, antigo Palácio Potengi, e no Teatro Alberto Maranhão.
A Proposição é lastrada de louvável intenção, mas se perde um pouco quando imagina chaminés, frituras, gordura, bebida alcoólica e exaustores misturados a obras de arte, escritos, fotografias e centenas de outros itens históricos extremamente frágeis. Museus devem ser espaços democráticos, mas que demandem severo controle de acesso para garantir a integridade da memória que guardam.
O Brasil chorou quando viu o Museu Nacional arder. Claro que a causa do acidente foi diversa, mas o significado do perigo é o mesmo.
A Bahia é um estado que ufana os sabores e cores de seus quitutes. Boa parte desse orgulho foi alimentada pelas letras de Jorge Amado e Zélia Gatai. Na Casa do Rio Vermelho, onde hoje funciona um memorial dedicado ao casal, lugar onde os dois viveram e morreram, a cozinha está preservada, belíssima, mas é proibido comer por lá.
Aqui no RN, o Instituto Ludovicos celebra a vida e legado de Cascudo, o mesmo que há quase 53 anos publicou a “História da Alimentação no Brasil”, obra definitiva sobre nossa gastronomia. Nem isso é suficiente para justificar o risco de instalar um restaurante típico no casarão.
Mas é certo que nosso Museu Solar Ferreiro Torto quer deixar de representar somente o passado e integrar o presente da cidade. O caminho talvez seja a busca por parcerias público-privadas, que dispõe de expertise e recursos para manter, gerir e promover o espaço. Prédios históricos de Salvador, por exemplo, são concedidos a empresas, mas sob um rigoroso regulamento que passa pela preservação de suas características físicas, manutenção integral e gratuidade para a visitação pública.
Nada de privatização! O Solar jamais deixaria de ser dos macaibenses e de todos os potiguares!
As ideias são boas, o debate é bom e, pelo expediente, a matéria segue para o birô do prefeito Emídio Jr, que sempre considerou fundamental transformar o Ferreiro Torto num equipamento turístico e pedagógico. Os pareceres das secretarias de Cultura; Desenvolvimento Econômico; Trabalho; Meio Ambiente; e Infraestrutura irão determinar as próximas cenas.
Historiando:
Inaugurado em 1979, serviu como memorial sacro da Fundação José Augusto. Com pouca visitação e roubo de algumas peças, foi fechado e as peças levadas para o anexo da igreja do Galo, em Natal.
Em seguida foi cedido a um comerciante local, que montou uma churrascaria (!) no prédio, mas fechou pouco tempo depois.
O Solar sediou a Prefeitura de 83 a 89, quando foi transformado em museu, mas abandonado pelo poder público. Somente em 30 de março de 2003 foi reaberto com o padrão atual, denominado Museu Solar Ferreiro Torto.
Hoje seu funcionamento é mantido integralmente com recursos da Prefeitura.
A fotografia data do início dos anos 70. Um pedaço da cidade que me traz boas lembranças, pois era na Rua do 35 (Rua General Aluízio Moura), que morava minha avó Corina.
Cheguei a ver a capelinha e a Escola de São Vicente, o terreno onde os circos eram armados e onde os rapazes jogavam bola (hoje Praça Alfredo Mesquita).
Lembro do medo que eu tinha do caixão das almas, que sempre ficava ao lado da capela do cemitério de São Miguel, aguardando para ser usado.
Quase todas as ruas eram de areia, terrenos sem cercas e um campinho de pelada em cada esquina.
As ruas eram apelidadas. Rua do 33, Rua do 35, Rua da Caixa, Rua do Cemitério, Ladeira do 35. E por aí se vai!
Hoje, Rua Dom Joaquim de almeida, Rua General Aluízio Moura, Rua Clóvis Jordão de Andrade, Rua Campo Santo, Rua Governador Dinarte Mariz, e Rua… da eterna saudade.
Não desistirei nunca de te amar, de falar sobre ti, minha Macaíba!
Enquanto vida e lucidez eu tiver, tu estarás dentro de mim.
Até breve!
Texto: Marcelo Augusto, colunista compulsório desta Revista Coité
Foto: Acervo
Foi num abril como este que perdemos Chico Anysio, Chateaubriand, Tancredo Neves, Nelson Gonçalves e Gonzaguinha, um dos mais geniais compositores brasileiros, que faria 76 anos em setembro.