
É fato que unanimidade na Câmara Municipal não garante eleição nem reeleição de nenhum prefeito.
Em 2000 Luizinho foi derrotado pelo inexperiente Fernando Cunha e, em 2012, blindada por todo o Palácio Alfredo Mesquita, Marília Dias perdeu o mandato para o já traquejado e ex-aliado Dr. Fernando. À época Marília apostou alto que seu candidato a vice, o atual prefeito Emídio Jr, trouxesse a vitória da chapa das urnas de Traíras e região. O projeto ruiu e Fernando voltou ao Auta de Sousa para mais 8 anos em mandatos.
Leia-se que durante a sua gestão, Marília Dias, além de endossada por toda a Câmara Municipal, andava de braços dados e passos largos com Henrique Alves, no sua melhor forma e prestígio; e Ezequiel Ferreira, deputado estadual forte. Aos dois foram garantidas votações importantes nas terras de Coité. A odontóloga investiu muito em grandes festas populares, agradou o povo, alcançou ótimos índices de aprovação em pesquisas sérias, mas não conseguiu o fundamental: transformar tudo isso em voto!
Já Fernando Cunha, em seus 16 anos como prefeito, nunca fez questão do apoio unânime declarado da Câmara. Sempre achou o risco e o custo-benefício altos demais para um resultado que poderia conseguir por meio de lideranças comunitárias muito bem posicionadas por todas as regiões do município. Jamais deu espaço para que seus aliados em nível estadual e federal assumissem algum protagonismo na política local. Ricardo Motta; Fábio e Robinson Faria; Sandra Rosado, Fernando Bezerra, Agripino, Garibaldi, Rosalba, Henrique, Fernando Freire e até Aluízio Alves tentaram tutelar os Cunhas, mas não conseguiram. Eventos de rua com grandes investimentos e atrações nacionais, nem pensar! Mas a fórmula saturou e a família Cunha decidiu mergulhar quando percebeu que seria difícil continuar colecionando êxitos. O primeiro sinal foi a eleição frustrada de Ederlinda Dias para deputada estadual, em 2018.
De lá para cá muita coisa mudou e agora a conversa é outra. Estratégias foram realinhadas, o poder das redes sociais transformou paradigmas, linguagens e a dinâmica; novos personagens surgiram dispostos e qualificados; o eleitorado saiu da passiva e está cada vez mais ressabiado.
Nos dois extremos mais evidentes, Emídio Jr e Netinho França, que se aliaram convenientemente para garantir o xeque-mate eleitoral de 2020, mas que hoje caminham distantes, declaradamente adversários. Apesar da juventude de ambos, não estamos tratando de principiantes. Os dois estiveram em palanques ainda de cueiros, embalados por pais militantes de décadas, e parecem saber onde querem chegar, chancelados por grandes massas que alimentam seus projetos ambiciosos, de longo prazo, travando duelos homéricos de popularidade em praça pública.
Outro fator moderno que merece toda atenção é a escolha dos candidatos a vice. Houve um tempo em que eram preferidos aqueles que não tivessem o mínimo poder de mobilização, quase nenhum capital eleitoral, sem influência na Câmara Municipal, que não representassem ameaça alguma à hegemonia do cabeça de chapa. No máximo deveriam ser bons estrategistas políticos, eloquentes e se contentarem com dois ou três cargos de terceiro escalão. A dobradinha dos “meninos”, quatro anos atrás, também mudou essa forma de fazer composição. Os dois com boas estruturas e equivalentes em pontuação, decidiram se unir em favor de uma eleição mais fácil e barata, mesmo que em oposição à candidata apoiada pelo então prefeito. A vitória foi acachapante, mas todos sempre souberam que o Auta de Sousa seria pequeno demais para Emídio e Netinho.
E a História continua sendo escrita com um enredo que não desconsidera nenhuma possibilidade. Fala-se em W.O, numa referência à possibilidade de uma reeleição fácil de Emídio, mas o fato é que ainda há muito a acontecer.
Tomara que as voltas da roda gigante tornem o jogo político mais interessante e proveitoso para o povo.
Que a maior vitória seja da democracia!