No coração do sertão nordestino, onde a terra seca se mistura ao céu azul, havia uma árvore generosa que oferecia à criançada um fruto pequeno, mas de sabor inesquecível: o mata-fome. Seu nome científico é Pithecellobium dulce. Com sua polpa doce, nutritiva e levemente ácida, ele era o lanche improvisado dos meninos e meninas que corriam descalços pelos quintais e matas. Bastava esticar o braço ou escalar um galho baixo para alcançar aquela delícia simples, mas tão querida, que saciava a fome e adoçava as tardes quentes.
Com o tempo, porém, as paisagens mudaram. Onde antes havia matas e terrenos baldios repletos de mata-fome, agora se ergueram casas, ruas asfaltadas e prédios cinzentos. A expansão urbana avançou sem piedade, as crianças estão cada vez mais enclausuradas e muitas dessas árvores foram arrancadas para dar lugar ao concreto. As novas gerações quase já não conhecem o prazer de colher o fruto direto do pé, nem a alegria de disputar com os amigos quem achava os mais maduros e suculentos.
A saudade aperta quando se lembra da simplicidade daqueles dias, quando a infância era feita de pequenas aventuras e sabores naturais. O mata-fome era mais do que um fruto; era um símbolo de liberdade e conexão com a terra, uma lembrança doce dos tempos em que a natureza ainda era parte do cotidiano. Hoje, resta apenas a memória, guardada com carinho por aqueles que tiveram o privilégio de provar essa iguaria antes que desaparecesse.