Nordeste Arretado: A festa é nossa e Luiz Gonzaga é o Rei!

Êita saudade danada de um tempo em que São João era sinônimo de forró pé de serra, trio no coreto da praça e cheiro de milho assado no ar! Hoje em dia, o que se vê em muito lugar é cantor embriagado no palco, tocando música que não tem nada a ver com o nosso São João. É sertanejo pop, é DJ que nunca viu um zabumba na vida. E aí, chamam a gente de saudosista, como se saudade fosse pecado. Mas como o mestre Luiz Gonzaga já dizia, “saudade, meu remédio é cantar!” — e é cantando que a gente resiste.

Cadê os arraiás de rua, com bandeirinha colorida balançando no vento e sanfona gemendo de emoção? Deram lugar a mega eventos com palcos maiores que curral de vaquejada, onde os cachês milionários vão pra gente que nem sabe o que é um xote ou um baião. Não é birra, não. É dor de ver a essência da nossa cultura sendo maquiada pra caber num padrão que não é nosso. E no meio disso tudo, a ausência do velho Lua pesa mais do que a mala de retirante.

Luiz Gonzaga não foi só cantor, não. Foi voz, foi protesto, foi bandeira hasteada no sertão. Ele cantou as dores da seca, os apuros da fome, a coragem dos que partem e a esperança dos que ficam. Foi ele quem gritou pro Brasil ver: o nordestino é forte, é digno, e tem cultura própria. “Vim do norte, eu sou cabra da peste, sou do povo e o povo é meu mestre!” — cada verso dele era um chamado à resistência e à valorização do nosso chão rachado de sol.

Sem Luiz Gonzaga, sem Jackson, Marinês, Dominguinhos e tantos outros da mesma linhagem, nossa identidade talvez tivesse se perdido nas estradas de asfalto quente da modernidade. São eles que continuam vivos em cada sanfona que chora e em cada casal que dança colado no terreiro. Eles são a memória viva do que somos, e junho é o mês em que isso pulsa mais forte no peito do nordestino.

Pense aí comigo: que Nordeste seria esse sem as cores dos balões, sem o calor das fogueiras, sem o cheiro de pólvora no céu? Um Nordeste sem poesia matuta, sem causos contados na calçada, sem Luiz Gonzaga dizendo que “olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo!” — não seria o mesmo. Seria vazio, sem alma. Porque cada festa junina sem forró de raiz é como milho sem sal: falta sabor, falta história.

Por isso, a gente precisa resistir. Precisa bater o pé e defender com orgulho o nosso jeito de celebrar, nosso jeito de cantar, de amar e de dançar. O São João é nosso. O forró é nosso. E Luiz Gonzaga é eterno — feito a fé, feito a esperança, feito o próprio sol do sertão que nunca se apaga.

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