
Por uma equidade racial na infância – Dia da Consciência Negra
Um garoto de 10 anos discutindo equidade para a infância e questões sobre racismo tem feito sucesso nas redes sociais nas últimas semanas. O vídeo, que fez parte de uma matéria sobre o “Leituraço”, uma atividade de leitura de contos africanos e afro brasileiros promovido na cidade de São Paulo, fez com que a fala – e o jeito peculiar de abordar estas questões – de Gustavo Gomes Silva dos Santos se espalhasse pela rede. Com propriedade, o menino aborda a importância do conhecimento da cultura afro brasileira no enfrentamento do racismo.
O filme foi divulgado alguns dias antes do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro. Ao tratar o assunto com propriedade em uma época em que a questão racial é tão discutida, Gustavo acabou chamando a atenção para o fato das crianças, imersas nesse turbilhão de informações, também terem opinião e discutirem questões como as raciais. Isso porque as crianças são tão vítimas das disparidades sociais e preconceitos raciais quanto os adultos.
A publicação “O impacto do racismo na infância“, lançado em 2010 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009, mostra que 26 milhões de crianças e adolescentes brasileiros vivem em famílias pobres, isso representam 45,6% do total de crianças e adolescentes do país. Desses, 17 milhões são negros.
E como a pobreza está intimamente ligada à falta de acesso a direitos básicos, isso atinge diretamente as crianças negras. Enquanto 29% da população do Brasil vive em famílias pobres, quando falamos sobre crianças, esse número chega a 45,6%, sendo que crianças negras têm quase 70% mais chance de viver na pobreza do que as brancas. Com 98% das crianças de 7 a 14 anos na escola, o Brasil ainda tem 535 mil crianças nessa faixa etária longe dos bancos escolares, sendo que 330 mil são negras.
A publicação fazia parte da campanha “Por uma infância sem racismo“, lançada no mesmo ano e que busca diminuir as diferenças e anular o racismo contra crianças. Na ocasião, o Unicef listou 10 modos para que isso aconteça. A última delas fala da importância da escolas no debate e enfrentamento do racismo, mesmo local onde Gustavo conheceu tantos contos da cultura africana e que mostrou a todos que veem sua entrevista o quanto sente orgulho em ser negro.
10 maneiras de contribuir para uma infância sem racismo
- Eduque as crianças para o respeito à diferença. Ela está nos tipos de brinquedos, nas línguas faladas, nos vários costumes entre os amigos e pessoas de diferentes culturas, raças e etnias. As diferenças enriquecem nosso conhecimento.
- Textos, histórias, olhares, piadas e expressões podem ser estigmatizantes com outras crianças, culturas e tradições. Indigne-se e esteja alerta se isso acontecer – contextualize e sensibilize!
- Não classifique o outro pela cor da pele; o essencial você ainda não viu. Lembre-se: racismo é crime.
- Se seu filho ou filha foi discriminado, abrace-o, apoie-o. Mostre-lhe que a diferença entre as pessoas é legal e que cada um pode usufruir de seus direitos igualmente. Toda criança tem o direito de crescer sem ser discriminada.
- Não deixe de denunciar. Em todos os casos de discriminação, você deve buscar defesa no conselho tutelar, nas ouvidorias dos serviços públicos, na OAB e nas delegacias de proteção à infância e adolescência. A discriminação é uma violação de direitos.
- Proporcione e estimule a convivência de crianças de diferentes raças e etnias nas brincadeiras, nas salas de aula, em casa ou em qualquer outro lugar.
- Valorize e incentive o comportamento respeitoso e sem preconceito em relação à diversidade étnico-racial.
- Muitas empresas estão revendo sua política de seleção e de pessoal com base na multiculturalidade e na igualdade racial. Procure saber se o local onde você trabalha participa também dessa agenda. Se não, fale disso com seus colegas e supervisores.
- Órgãos públicos de saúde e de assistência social estão trabalhando com rotinas de atendimento sem discriminação para famílias indígenas e negras. Você pode cobrar essa postura dos serviços de saúde e sociais da sua cidade. Valorize as iniciativas nesse sentido.
- As escolas são grandes espaços de aprendizagem. Em muitas, as crianças e os adolescentes estão aprendendo sobre a história e a cultura dos povos indígenas e da população negra; e como enfrentar o racismo. Ajude a escola de seus filhos a também adotar essa postura.
Texto extraído do site do Unicef.