Jovem gaúcha morre de câncer depois de passar seis anos presa injustamente

Aos 26 anos, Damaris Vitória Kremer da Rosa morreu de câncer dois meses após ser absolvida de um crime que não cometeu, encerrando uma trajetória marcada por talento, dor e resistência. Poliglota e amante da literatura, era descrita por amigos como doce, organizada e dona de uma inteligência rara. Lia Dostoiévski, Machado de Assis e tantos outros autores que alimentavam sua paixão pelas palavras. Foi sepultada no Cemitério Municipal de Araranguá (SC), deixando a lembrança de uma jovem que sonhava com a liberdade e acreditava na cura.
A vida de Damaris começou a desmoronar em agosto de 2019, quando foi presa preventivamente, acusada de envolvimento no homicídio de Daniel Gomes Soveral, ocorrido em Salto do Jacuí (RS). Segundo o Ministério Público, ela teria atraído a vítima até o local do crime, em conluio com o então namorado, Henrique Kauê Gollmann, e outro acusado, Wellington Pereira Viana. A defesa, porém, sustentou que Damaris jamais participou do assassinato, alegando que apenas relatou a Henrique ter sido estuprada por Daniel, o que teria motivado o homicídio. Apesar dos pedidos de liberdade e dos problemas de saúde relatados, a Justiça manteve sua prisão.
Durante seis anos, Damaris foi transferida entre diferentes presídios gaúchos, até que, em março de 2025, a Justiça converteu sua prisão em domiciliar devido ao agravamento de um câncer no colo do útero. Mesmo debilitada, seguiu sendo monitorada por tornozeleira eletrônica, enquanto realizava quimioterapia e radioterapia em hospitais de Santa Cruz do Sul, Rio Pardo e Criciúma. A defesa chegou a solicitar a retirada do equipamento para facilitar o tratamento, mas os pedidos não foram atendidos.
O julgamento que selou sua absolvição aconteceu em agosto de 2025, quando o júri reconheceu a falta de provas e a inocência da jovem. Setenta e quatro dias depois, Damaris morreu em casa, cercada pela família. O Tribunal de Justiça e o Ministério Público alegaram que só houve concessão de liberdade após comprovação da doença. Sua história, no entanto, expõe o custo humano de uma Justiça que tarda em reconhecer erros — e o preço que uma inocente pagou por isso.



