
Neste 20 de julho, completam-se 91 anos da morte de Padre Cícero Romão Batista, figura central da religiosidade popular nordestina e símbolo de fé para milhões de brasileiros. Nascido em 1844, em Crato (CE), e ordenado sacerdote em 1870, Padre Cícero se estabeleceu em Juazeiro do Norte, onde sua trajetória de vida se entrelaçou com a história da cidade. Foi líder religioso, político e conselheiro do povo pobre do sertão, tornando-se um verdadeiro guia espiritual que, mesmo após quase um século de sua partida, continua vivo na devoção popular.
Conhecido carinhosamente como “Padim Ciço”, ele se destacou por sua proximidade com os mais humildes, a caridade ativa e uma atuação firme diante dos desafios sociais e econômicos do sertão. Um episódio marcante foi o fenômeno da hóstia que teria sangrado na boca de uma beata, fato interpretado por muitos como milagre e que atraiu multidões a Juazeiro, mesmo diante das desconfianças e punições impostas pela Igreja da época. Ainda assim, o carinho do povo jamais arrefeceu. Até hoje, romarias reúnem milhares de fiéis na cidade, que veem em Padre Cícero não apenas um líder religioso, mas um intercessor junto a Deus.
A devoção, mantida viva por gerações, acabou ganhando atenção oficial da Igreja. Em 2015, o Vaticano reabilitou a imagem de Padre Cícero, após décadas de sanções e distanciamento, reconhecendo sua importância pastoral e o impacto positivo de sua missão. Desde então, o processo de beatificação e canonização vem avançando, com a abertura formal da causa em 2022, pela Diocese de Crato. Fiéis, estudiosos e religiosos agora aguardam com esperança os próximos passos para que o “santo popular” seja reconhecido também como santo pela Igreja Católica.
Mais do que uma figura histórica, Padre Cícero representa um modo de viver a fé: simples, acolhedor e profundamente ligado às necessidades do povo. Seu legado ultrapassa o religioso, tocando o social, o político e o cultural. Nove décadas após sua morte, ele continua a inspirar peregrinos e a fortalecer a espiritualidade nordestina, tornando Juazeiro do Norte um dos principais centros de romaria do país. A cada 20 de julho, não se recorda apenas uma ausência, mas se celebra uma presença que resiste ao tempo — e à burocracia do Vaticano — por meio da fé de um povo que nunca deixou de acreditar.
