Golpe sentimental cresce no ambiente digital e mobiliza Justiça, especialistas e bancos

O avanço dos relacionamentos iniciados pela internet e a profissionalização das táticas de fraude fizeram do estelionato sentimental um fenômeno cada vez mais frequente no país. Embora não exista uma tipificação específica no Código Penal, o Superior Tribunal de Justiça tem reconhecido a prática como ato ilícito capaz de gerar danos morais e materiais. Essa expansão ocorre em um cenário em que aplicativos de namoro permitem a criação de perfis falsos e facilitam a aproximação com vítimas vulneráveis, especialmente mulheres. Levantamento do projeto Era Golpe, Não Era Amor mostra que quatro em cada dez brasileiras já receberam algum tipo de abordagem suspeita ou conhecem alguém que foi alvo de golpistas que se passam por parceiros afetivos.

De acordo com especialistas em segurança digital, esses criminosos costumam construir personagens complexos, muitas vezes com apoio de tecnologias avançadas, para conquistar a confiança de suas vítimas. Histórias emocionais, declarações de afeto e promessas de encontros são usadas para criar laços que justificam pedidos sucessivos de dinheiro. Entre as estratégias mais comuns estão evitar videochamadas, alegar emergências financeiras e até ameaçar terminar o relacionamento caso as solicitações não sejam atendidas. Para Rogério Freitas, diretor-geral para o Brasil da Lynx Tech, a sofisticação dos golpes faz com que ninguém esteja totalmente imune, já que os fraudadores manipulam emoções com grande habilidade.

No campo jurídico, o reconhecimento do estelionato sentimental como ato ilícito tem garantido às vítimas o direito à indenização. O Judiciário avalia que enganar alguém com objetivo financeiro por meio de vínculo afetivo configura violação à boa-fé e causa prejuízos que devem ser reparados. Há ainda projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que buscam incluir o golpe romântico como crime específico, em resposta ao aumento das ocorrências e ao impacto emocional profundo relatado por quem passa por esse tipo de violência. Especialistas recomendam que a vítima registre boletim de ocorrência, busque apoio psicológico, procure orientação jurídica e compartilhe a situação com pessoas de confiança para reduzir o isolamento.

A ampliação dos casos também acende um alerta no sistema financeiro. Em algumas situações, além de transferir dinheiro, vítimas chegam a fornecer dados bancários aos golpistas. Frente a esse cenário, bancos têm investido em ferramentas que monitoram grandes volumes de informações para detectar movimentações suspeitas, como gastos atípicos e pedidos de empréstimo fora do padrão. Esses sistemas, baseados em análises contínuas e modelos atualizados diariamente, ajudam a identificar sinais de fraude e a proteger clientes que, muitas vezes, só percebem o golpe após prejuízos significativos. A expectativa é que o uso combinado de tecnologia, educação digital e ações preventivas reduza o impacto desse tipo de crime nas relações mediadas pelo ambiente virtual.

Foto: SSP-AM

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