17 de agosto de 2025

Comportamento

Leitura do domingo: O crime invisível de parar

O psicólogo Alexandre Coimbra vem alertando, há anos, sobre um fenômeno silencioso que atravessa a vida contemporânea: a criminalização da pausa. Vivemos um tempo em que parar, respirar ou simplesmente existir sem produzir parece quase um pecado social. Depois que a internet se enraizou no cotidiano e os celulares passaram a nos acompanhar em todos os espaços — do transporte público à mesa de jantar — o tempo livre foi sequestrado. E, pior, passou a ser visto como preguiça.

A lógica do “sempre online” não distingue mais horário comercial de madrugada, dia útil de feriado. A notificação vibra, e lá vamos nós responder, publicar, consumir. É um impulso automático, mas não inocente: ele alimenta a cultura do desempenho, na qual o valor de uma pessoa está atrelado ao quanto ela entrega, produz e se mantém visível. Nesse cenário, o descanso deixou de ser um direito para se tornar um luxo que poucos se permitem — e, quando se permitem, carregam culpa.

O mais preocupante é que essa mentalidade não fica restrita ao ambiente de trabalho. Ela contamina a vida inteira. Pais e mães checam e-mails no parquinho, jovens respondem mensagens durante encontros, profissionais se sentem na obrigação de estar acessíveis até durante o luto. É como se a pausa tivesse perdido o status de necessidade humana e ganhado o rótulo de ameaça ao sistema.

Recuperar a pausa é, portanto, um ato de resistência. É lembrar que a criatividade nasce do ócio, que a saúde mental depende do silêncio e que o corpo precisa de tempos mortos para continuar vivo. Ao contrário do que o mundo hiperconectado quer nos fazer crer, não é o trabalho ininterrupto que nos mantém produtivos, mas a capacidade de parar, recarregar e voltar inteiros. E, talvez, seja exatamente aí que mora a verdadeira revolução.

Homenagem

Entre a memória e a saudade: Patrimônio que vive no povo

Eles sempre farão falta: 38 anos sem Drummond; há um ano perdíamos Sílvio Santos

No Dia do Patrimônio Histórico, a data convida à reflexão sobre aquilo que permanece vivo na cultura, mesmo quando seus protagonistas já não estão entre nós. Neste 17 de agosto, lembramos que há 38 anos o Brasil se despediu de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas de nossa história, cuja obra se tornou patrimônio imaterial da língua portuguesa. Também faz um ano que nos despedimos de Sílvio Santos, ícone da televisão brasileira, que moldou a comunicação popular e deixou uma marca indelével no imaginário coletivo.

Drummond, com sua poesia delicada e incisiva, soube traduzir o Brasil em palavras, falando tanto das pequenas coisas quanto dos grandes dilemas humanos. Sua escrita, ora melancólica, ora irônica, construiu pontes entre gerações e ajudou a formar um senso de identidade cultural que se confunde com a própria história nacional. Ler Drummond é reencontrar a si mesmo, é reconhecer o Brasil em cada verso e perceber que a arte é capaz de atravessar o tempo sem perder a força.

Sílvio Santos, por sua vez, construiu um patrimônio afetivo por meio da televisão, unindo o país em programas que se tornaram parte da rotina de milhões de famílias. Mais do que um apresentador carismático, ele foi um empreendedor visionário, que revolucionou o entretenimento popular e criou formatos que ainda hoje ecoam nas telas. Sua presença, marcada pela espontaneidade e pelo humor, fez dele não apenas um comunicador, mas uma figura que o povo aprendeu a considerar “de casa”.

Assim, no Dia do Patrimônio Histórico, entendemos que preservar a memória vai além de proteger prédios e monumentos. É também manter viva a herança cultural deixada por personalidades que ajudaram a moldar o país. Drummond e Sílvio, cada um a seu modo, são patrimônios vivos na lembrança e no coração do povo brasileiro — provas de que a verdadeira imortalidade está naquilo que se compartilha e permanece na alma coletiva.

Rolar para cima