
Sebastião Bernardes de Souza Prata, conhecido nacionalmente como Grande Otelo, nasceu em na cidade de Uberlândia/MG, em 18 de outubro de 1915. Consagrou-se como ator, embora também tenha desenvolvido trabalhos como escritor, cantor e compositor.
Grande Otelo ainda vivia em sua cidade natal quando conheceu a companhia de teatro mambembe da diretora Abigail Parecis e decidiu fugir com o grupo para São Paulo. Já na cidade grande, após inúmeras idas e vindas ao Juizado de Menores, findou por ser adotado pela família do político Antônio de Queiroz e passou a estudar no tradicional Liceu Coração de Jesus.
Na década de 1920, aos 08 anos de idade, participou da Companhia Negra de Revistas, regida por Pixinguinha, despontando como estrela infantil. Em 1932, já na adolescência, retorna ao teatro por meio da Companhia Jardel Jércolis e, em 1937, já era considerado uma das grandes atrações dos teatros de revista. Foi nessa época que ganhou o apelido de Grande Otelo.
Sua estreia no cinema se deu, em 1935, no filme Noites Cariocas, da produtora Cinédia, em que contracenou pela primeira vez com Oscar Lorenzo Jacinto, o Oscarito. Todavia, foi na Atlântida Cinematográfica que a dupla alcançou o reconhecimento do grande público e firmou a chanchada como um dos principais gêneros da história do cinema brasileiro, através de filmes como Tristezas não pagam dívidas (1943), Carnaval no fogo (1949), Aviso aos Navegantes (1950) e Carnaval Atlântida (1952).
Em 1942, já gozando de relativa notoriedade, Grande Otelo participou do inacabado It’s All True (É tudo verdade), de Orson Welles, que o considerava o maior ator do Brasil. Ele e Herivelto Martins foram os responsáveis por apresentar ao cineasta estadunidense a diversidade cultural do povo brasileiro.
Em 1954, é lançado o último filme da parceria com Oscarito, Matar ou Correr. A partir de então, Grande Otelo sela algumas outras parcerias, como a estabelecida com Ankito, já na Herbert Richers, e com a atriz Vera Regina.
Sua carreira, porém, ganha novo impulso com a versão cinematográfica de um clássico da literatura brasileira, Macunaíma (1969), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, a partir do romance de Mário de Andrade. A atuação de Grande Otelo rendeu vários prêmios de melhor ator, como os do IV Festival de Cinema de Brasília, o Prêmio Coruja de Ouro, do Instituto Nacional do Cinema, e o Prêmio Air France, todos em 1969.
Embora tenha se dedicado durante grande parte de sua carreira às comédias, Grande Otelo era um ator extremamente versátil, tendo se destacado também em papéis prenhes de dramaticidade, como Rio Zona Norte (1957).
Durante seus 53 anos de carreira trabalhou em filmes de Nelson Pereira dos Santos, Carlos Manga, Bruno Barreto, Júlio Bressane, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, entre outros grandes cineastas. Ao todo, participou de 118 películas.
Também fez sucesso no teatro, destacando-se as peças: Um milhão de mulheres (1947), Muié Macho, Sim Sinhô (1950), Banzo aiê (1956) e O homem de La Mancha (1973). A partir da década de 1950, o ator passou a se apresentar também na televisão, em emissoras como a TV Tupi do Rio e a Tv Rio. Em 1965, foi contratado pela Rede Globo, participando de inúmeras novelas e programas humorísticos. Em 1986, participou da novela Sinhá Moça, de enorme sucesso, onde contracenou mais uma vez com a atriz e amiga Ruth de Souza.
O fato de ser um ator aclamado pela crítica e pelo público não livrou Grande Otelo de vivenciar situações de discriminação racial. Segundo o antropólogo Luíz Felipe Hirano, autor da tese de doutorado Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo, no início de sua carreira, além de pertencer ao corpo de atores da Companhia Jardel Jércolis, fazia parte de seu staff; era também a única estrela do Cassino da Urca que não tinha permissão de entrar pela porta principal. Infelizmente, essas situações o acompanharam por toda sua vida profissional, a exemplo do papel que lhe foi atribuído no humorístico Escolinha do Professor Raimundo, em que interpretava um estudante ignorante, obtuso, que mal conseguia falar português. De acordo com Hirano, o ator teve que aceitar a personagem por força contratual com a Rede Globo e, dada à instável situação financeira, para continuar recebendo um salário.
Esses obstáculos costumam aparecer quando certos espaços são ocupados por pessoas às quais não estavam inicialmente destinados. Segundo Sérgio Cabral, autor de Grande Otelo – Uma biografia, o ator “entrou em um mundo que não estava à disposição de pessoas como ele”. Isso não o impediu de quebrar tabus ininterruptamente. Breno Lira Gomes, curador da mostra Grande Otelo, o ‘maior ator do Brasil’, organizada pela Caixa Belas Artes, em São Paulo, em outubro de 2015, destacou outro de seus feitos: “Se a gente parar para pensar, em 1943, um ator negro protagonizando um filme inspirado em sua vida [Moleque Tião], para aquela época foi um marco”.
Grande Otelo morreu em 1993 de um ataque fulminante do coração, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, quando viajava para uma homenagem que receberia no Festival dos Três Continentes, em Nantes. Para Sérgio Cabral, naquele momento, Grande Otelo “já estava para o cinema como um Charles Chaplin”.
Fundação Cultural Palmares
