Cadê nossos pardais?

Durante muito tempo, bastava olhar para o alto nas cidades para encontrar pardais espalhados por telhados, fios e praças. Sempre em grupo e com seu canto inconfundível, essas pequenas aves fizeram parte do cotidiano urbano e da lembrança afetiva de gerações inteiras. Nos últimos anos, porém, a presença antes corriqueira passou a chamar atenção justamente pela ausência. Em diferentes regiões do país, pesquisadores e observadores de aves registram uma diminuição expressiva desses animais, um cenário que também se repete em centros urbanos de outras partes do mundo.

A redução não ocorre por acaso. Especialistas apontam que a escassez de insetos, provocada pelo uso intenso de agrotóxicos e pela expansão desordenada das cidades, compromete diretamente a reprodução dos pardais. Embora os adultos se alimentem principalmente de sementes, os filhotes dependem quase exclusivamente de insetos nos primeiros dias de vida. Soma-se a isso a transformação do desenho urbano, com prédios modernos, superfícies lisas e a eliminação de frestas e beirais, espaços antes essenciais para a construção de ninhos. Poluição, excesso de ruído e a disputa com outras espécies completam um ambiente cada vez menos favorável.

Esse desaparecimento progressivo ocorre de forma quase imperceptível, até que o silêncio se torna evidente. Biólogos alertam que o declínio dos pardais funciona como um sinal de alerta sobre a qualidade ambiental das cidades. Conhecidos pela resistência e pela facilidade de adaptação ao convívio humano, eles sempre foram considerados indicadores de equilíbrio urbano. Quando até essas aves começam a desaparecer, o alerta se estende para toda a biodiversidade que depende de espaços mais saudáveis para sobreviver.

Curiosamente, os pardais não fazem parte da fauna original do Brasil. A espécie Passer domesticus tem origem no Oriente Médio e se espalhou pela Europa e pela Ásia acompanhando os assentamentos humanos. No início do século XX, por volta de 1903, foi introduzida no Rio de Janeiro pelo então prefeito Pereira Passos, com a intenção de ajudar no controle de insetos. Sem predadores naturais e com abundância de alimento e abrigo nas cidades, a ave se espalhou rapidamente pelo território nacional, tornando-se uma das mais comuns do país. Hoje, seu declínio levanta uma pergunta carregada de nostalgia e preocupação: o que aconteceu com os pardais que sempre pareceram parte permanente da nossa paisagem?

Foto: WikiAves

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