Certamente quase ninguém lembra do menino Aylan, mas a imagem do seu cadáver, que circulou o mundo quase nove anos atrás, jamais saiu da memória deste repórter.
Segundo Lucía López Alonso, em publicação da Religión Digital, 02-09-2020, “sua diminuta biografia segue sendo uma das mais duras metáforas da sociedade atual.
Em um mundo semeado pela violência e morbidez, a imagem do cadáver do menino sírio de 3 anos viralizou em setembro de 2015. A internet e a globalização conseguiram a façanha: temos permanentemente a visão do horror, onde quer que vivamos, se contamos com um computador ou uma televisão.
De pai curdos, o menino Aylan morreu em uma praia da Turquia. Sua vida deteve-se a meio caminho da fuga que empreenderam para se salvar, para sair da Síria e chegar à Europa. Despertando com assombro a realidade da crise de refugiados que explodiu em 2015, o chamado Primeiro Mundo indignou-se por ter permitido a morte de uma criança.
Como George Floyd em 2020, Aylan morreu asfixiado há oito anos. Vítimas de uma guerra sem fim. Ao seu lado também faleceram o seu irmão de 5 anos e sua mãe. Somente o pai da família sobreviveu ao naufrágio do bote em que cruzavam o mar.
A cultura do espetáculo, que nos acostumou a contemplar tragédias como a de Aylan, tornou mundialmente identificável o corpo sem vida da criança síria. A falta de solidariedade real encarregou-se, primeiro, de que não deixasse chegar à Grécia de uma maneira segura. E nós fizemos o resto: deixar de falar de Aylan.
Quase nove anos depois, o drama dos refugiados continua. Os governos, sempre pretendendo controlar os meios de comunicação, a economia e os fluxos migratórios, não evitaram que algumas vidas valham mais que as demais. O Ocidente continua recebendo com arame farpado as famílias, como a de Aylan. Quantas crianças morreram, desde então, em condições similares as suas? Do Mediterrâneo a Califórnia, ao menos hoje o planeta deveria voltar a recordar de Aylan. Um cidadão com direitos, uma criança com futuro, que não teve nada disso. Talvez nessa praia turca sempre vá existir essa esperança impossível.”