
As novas diretrizes de saúde cardiovascular divulgadas recentemente nos Estados Unidos e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia reforçam um movimento internacional de maior rigor no controle da pressão arterial e do colesterol. Valores antes considerados aceitáveis passaram a exigir acompanhamento médico mais próximo. A pressão de 12 por 8 deixou de ser vista como totalmente normal e agora se enquadra na categoria de pré-hipertensão, que abrange níveis entre 120 e 139 mmHg de pressão sistólica e entre 80 e 89 mmHg de diastólica. Para pessoas já diagnosticadas com hipertensão, a meta de tratamento foi ajustada para abaixo de 130 por 80 mmHg, medida que busca reduzir riscos de infarto e acidente vascular cerebral, principais causas de morte no país.
No campo do colesterol, as metas tornaram-se mais rígidas e receberam novas classificações de risco. O documento atualizado da Sociedade Brasileira de Cardiologia reduziu os limites do LDL para diversos perfis de pacientes e criou a categoria de risco extremo, destinada a pessoas que já sofreram múltiplos eventos cardiovasculares. Para esse grupo, o LDL deve permanecer abaixo de 40 mg/dL, patamar mais ambicioso do que o proposto nas diretrizes anteriores. Pacientes de risco muito alto passaram a ter como alvo valores inferiores a 50 mg/dL, enquanto os de baixo risco agora devem manter o LDL abaixo de 115 mg/dL. A recomendação acompanha evidências internacionais que demonstram que níveis mais baixos de colesterol estão associados à menor probabilidade de novos eventos cardíacos.
A atualização também ampliou a investigação de fatores relacionados às dislipidemias. A dosagem da lipoproteína(a), marcador fortemente associado ao risco de infarto e AVC, passou a ser indicada ao menos uma vez na vida para todos os adultos, embora ainda não tenha cobertura ampla no sistema público ou em planos de saúde. Especialistas destacam que parte das alterações do colesterol é de origem genética, o que torna a detecção precoce fundamental para evitar complicações. Outro ponto de destaque da diretriz é a recomendação de iniciar terapia combinada em pacientes com alto risco cardiovascular, reunindo estatinas, ezetimiba, terapias anti-PCSK9 e, em alguns casos, estratégias triplas capazes de reduzir o LDL de forma mais intensa.
Mesmo com a ampliação das opções terapêuticas, as entidades médicas reforçam que mudanças no estilo de vida continuam sendo a base da prevenção. Alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, abandono do tabagismo e controle do peso seguem essenciais para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares. A expectativa é que as novas diretrizes orientem médicos e gestores públicos e contribuam para conter a mortalidade por infarto e AVC em um contexto marcado pelo aumento da obesidade, do sedentarismo e do estresse crônico na população brasileira.
Ilustração: Câmara dos Deputados

