
Houve um tempo em que a juventude era sinônimo de rebeldia, inovação e ousadia. Nos anos 70, a música d’Os Incríveis gritava “Ninguém Segura a Juventude do Brasil” e celebrava essa força transformadora; nos 80, Renato Russo cravava a “Geração Coca-Cola” como moderna e cosmopolita. Hoje, porém, a cena mudou. Pesquisadores afirmam que, pela primeira vez na história, os filhos parecem mais ingênuos — para não dizer outra coisa — que os pais. E, como se quisessem comprovar a tese, jovens de barba feita e unhas decoradas resolveram transformar um acessório infantil em tendência fashion: a chupeta.
O que antes servia para acalmar bebês inquietos agora é vendido, inclusive em países como China e Estados Unidos, como ferramenta para aliviar estresse, ansiedade e até insônia. Redes sociais fervilham com vídeos de adultos mascando o bico de borracha no trabalho, no trânsito e até durante crises de burnout, muitos deles ostentando modelos customizados com pedrarias e miçangas. Psicólogos, no entanto, veem nisso um sintoma de regressão emocional: a tentativa inconsciente de fugir das responsabilidades da vida adulta e se refugiar no colo simbólico da infância.
Segundo o psicólogo Alexander Bez, essa moda não passa de um comportamento infantilizado sem função terapêutica real. “É um modismo passageiro, incapaz de lidar com as causas do estresse, que vêm de fora para dentro e encontram na ansiedade um aliado”, explica. Para ele, práticas como exercícios físicos, terapia e técnicas de respiração são alternativas comprovadamente mais eficazes — e menos vexatórias — para manter o equilíbrio emocional.
A febre das chupetas não é caso isolado. Bichos de pelúcia, antes guardados no fundo do armário, hoje pendem como chaveiros em bolsas e cintos; monstrinhos Labubu e outros brinquedos infantis viraram símbolos de “conforto emocional” entre jovens adultos. Tudo embalado na mesma lógica: buscar no passado um abrigo contra um presente que consideram insuportável. O problema é que, ao invés de enfrentarem a realidade, preferem fingir que ela não existe — nem que para isso precisem voltar ao berço.
Assim, a juventude que já foi chamada de motor do futuro agora parece estacionada no cercadinho. De geração rebelde, transformou-se em geração do “bico” — não o da luta e da resistência, mas o de silicone colorido, comprado online e exibido com orgulho. O país que já cantou que ninguém segurava sua juventude assiste, atônito, a um desfile de adultos de chupeta, provando que o Brasil pode até ser o país do futuro… mas, para alguns, o futuro é feito de mamadeiras e fraldas imaginárias.

