
Há exatos 39 anos, o Brasil se despedia fisicamente de Luís da Câmara Cascudo, mas seu encantamento segue vivo nas páginas que eternizaram a alma do nosso povo. Pesquisador incansável das raízes culturais brasileiras, Cascudo dedicou sua vida a ouvir, registrar e valorizar os saberes populares, os mitos, as lendas e os costumes que moldam a identidade nacional. Seu olhar sensível para o cotidiano transformou a simplicidade da vida em patrimônio, tornando-se referência incontornável nos estudos do folclore e da etnografia.
Autor de mais de 150 obras, Cascudo construiu uma ponte entre a academia e o povo, rompendo as barreiras do elitismo intelectual. Em títulos como Dicionário do Folclore Brasileiro e História da Alimentação no Brasil, revelou a riqueza que brota das manifestações populares, dos sabores, das narrativas orais, das festas e da linguagem do povo. Sua escrita, ao mesmo tempo rigorosa e poética, devolveu ao brasileiro o orgulho de suas raízes, num tempo em que o popular ainda era marginalizado pelos cânones oficiais da cultura.
Quase quatro décadas após sua partida, o legado de Câmara Cascudo permanece vivo nas escolas, nas rodas de conversa, nos estudos acadêmicos e nas políticas de preservação cultural. Ele continua encantando leitores e pesquisadores, como um guardião atento da memória e das tradições. Em tempos de aceleração e esquecimentos fáceis, lembrar Cascudo é reafirmar a importância de conhecer quem somos — e, sobretudo, de valorizar as vozes que, por muito tempo, foram silenciadas. Seu encantamento, portanto, não se limita à sua ausência, mas ressoa a cada reencontro com o Brasil profundo que ele tanto amou.

